- Eu vou matar! Eu
vou matar um hoje!
É toc, toc, toc,
toc, toc pra cá. É toc, toc, toc, toc, toc, toc pra lá. Só se ouve o som do
salto do sapato ecoando de um lado para o outro do corredor, enfurecidamente,
como se fosse a Gestapo acabando de ouvir o som de um alfinete caindo, vindo
direto de um fundo falso de armário encostado na parede de madeira de um
casebre localizado no subúrbio de uma cidadezinha de uma Polônia qualquer.
Silêncio, tensão.
- Será que é
comigo?
- O que eu fiz
dessa vez?
Perguntavam-se
todos.
- Ela não deve ter
tomado o remedinho.
- Alguém dá um doce
pra ela, peloamordedeus!
Uma voz tentava
acalmar.
Foto: Banco de Imagens |
Na janela, o
assobio do vento que balançava os galhos das árvores lá fora. Na porta, a
campainha tocava como um sinal de que a vida precisava continuar por ali. A
pobre alma incógnita ameaçada de morte permanecia vagando indiferente sob os
olhares desconfiados e piedosos daqueles que há pouco presenciavam tal sentença.
Acabou-se a
concentração, o batimento de metas já não existia mais. Só o que restava era um
misto de incerteza e indignação. O corredor passou a ser evitado. A
reverberação dos sons ali emitidos foi contagiante, refletindo em risinhos desconfiados
ou o pânico no olhar dos receptores da mensagem. O corredor dá eco, o corredor
dá medo e (alguém discorda?) o corredor dá morte.
Ainda era o segundo
dia daquela semana, mas algo dizia que, não, não seria nada fácil seguir a
diante com aquela rememoração, banhada por inconsequente e, cada vez mais
frequente, ato de coação e incitação ao ócio.
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