COMPRA DA SEMANA

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- Amor, carne moída de segunda, peito de frango (2 por R$ 5), carne de panela, linguiça de churrasco, uma de frango (pra variar) e sardinha espalmada. Comprei também uma lata de milho, o tomate que acabou (só 3) e só uma berinjela (porque os dois estavam pra lá de R$ 6 o Kg). Cebola e alho vão ter que esperar, a gente improvisa. 

Foto: Banco de Imagens
- E o ovo? 

- Ah é, o ovo! Peguei também. Uma dúzia, que é pra durar até o fim do mês. 

Hoje ainda é dia 12 do mês de julho, o ano é 2016, e este ritual ainda deverá se repetir por mais três vezes só neste mês, antes do próximo pagamento. Depois começa tudo de novo. Cada bandejinha de carne custou menos de R$ 10 ‒ com exceção da carne de panela, que ficou em R$ 13 e alguma coisa, por conta do tamanho do corte ‒ e cada uma delas precisa ser suficiente para 6 refeições. Somos em 3 lá em casa, mas, precisamos fazer com que as refeições nos sirvam para o jantar e o almoço do dia seguinte. 

Eu não sei por que diabos a sardinha é chamada de espalmada, se ela vem toda embalada em pequenos e esfarelentos pedaços congelados. Eu não sei o nome da carne de panela, pois, para mim, se é dura e cheia de nervos é só ‘carne de panela’, daquelas de cozinhar na pressão. Mas, sei que a carne moída de segunda, apesar de bem sem-vergonha e da aparência horrível, se bem temperada e acompanhada de arroz e um creme de algum legume, até que fica boa de comer. 

A última vez que eu comi algo que realmente tive vontade de comer? Acho que foi em 2003, na primeira vez que voltei pra casa dos meus pais para visitá-los, depois de ter me mudado de cidade para fazer faculdade. Minha falecida vozinha, um anjo, fez um de seus melhores, mais deliciosos e misteriosos pratos já vistos até hoje, só porque eu pedi: um incrível e inigualável bife de filé mignon à milanesa. Ela era viúva e aposentada, ela era poderosa, ela comprava filé mignon. Eu quis e... voilà! Sem contar que ainda tinha feijão. Ahh! Saudoso feijão... 

Que infortúnio essa tal evolução, que tanto progresso trouxe à humanidade. Já faz um tempo que agora é assim, que a gente só compra o quê e quando dá, que a gente se adapta e deixa pra lá. E eu, o que faço? Eu vou levando, reclamando, apertando, caindo, levantando, revezando, otimizando, somando, recapitulando, indo, voltando, pulando, comprando, focando, rateando, panguando, rindo, cantando, chorando e rimando, pois, mesmo ralando, já vou avisando, não dá pra ficar definhando, esperando, rezando e torcendo, só remoendo, agonizando e observando a fonte secando, enquanto a vida vai morrendo.
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