BARBARAMENTE VERSÁTIL

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A história de Bárbara Cecily, matriarca da família Barros, tradicionalmente conhecida em Maringá pela trajetória política e de pioneirismos


A pioneira maringaense nasceu em 05 de outubro de 1936, em uma pequena ilha inglesa, chamada Santa Helena - localizada ao meio do Atlântico Sul, com 122 Km² de extensão e cerca de 4.500 habitantes, famosa por ter servido de exílio para figuras ilustres da antiguidade, como Napoleão Bonaparte. Bárbara, com apenas 11 anos de idade, se mudou para o Brasil com os pais Odwaldo e Winifred Ethel Bueno Netto, aportando em Maringá no ano de 1947. O casal ainda teve mais oito filhos, Ana, Carlos, Peter, Délia, Odwaldo, Renato, Waldwin e Silvia, alguns nascidos já no Brasil.

A família comprou um lote - na Avenida Brasil, em frente à atual Praça Napoleão Moreira da Silva - onde construiu uma loja de variedades, a Bazar O.K., que vendia de tudo, de agulhas a ternos masculinos, além do Cine Maringá (o primeiro cinema da cidade), o Bar Central e, ainda, fizeram parte da fundação de diversas outras instituições como a Santa Casa, o Rotary Club, Maringá Clube, Associação Comercial e Empresarial de Maringá, o Clube Hípico, a Sociedade Rural, a Rádio Cultura e o Aeroclube de Maringá. 

Juntamente com a mãe, Bárbara trabalhava no Bazar. O irmão mais velho, Carlos, e o pai cuidavam do cinema que, na época, não possuía nenhuma estrutura, os filmes eram veiculados em tecido esticado no final da Avenida Brasil (atual Loja Riachuelo) e o público precisava levar cadeiras e bancos de casa para assistir às sessões. Transferiram o cinema para a Avenida Getúlio Vargas já no início da década de 1950, para uma estrutura maior.

Com a chegada do progresso e o aumento da concorrência, a família optou por vender o comércio, o que os obrigou a explorarem outras atividades, novas possibilidades de investimentos. Tendo em vista a dificuldade de locomoção por terra, considerando a precariedade das estradas naquele tempo, Odwaldo avistou uma oportunidade única para seus filhos, a de atuarem no setor aeronáutico. Quando Carlos completou dezoito anos, formou-se piloto de táxi-aéreo, o pai viajou até São Paulo e comprou um avião para o filho que, ao lado de um dos irmãos, Peter, fundou a Táxi Aéreo de Maringá (TAMA), que funcionou até 1959.

A Reviravolta

Inspirada pelo irmão, no ano de 1954, antes mesmo de completar 18 anos, Bárbara ouviu dizer que o Aeroclube de Maringá estava oferecendo um Brevê de piloto para mulheres. Como já conhecia um pouco da profissão e, por sinal, gostava muito do assunto, inscreveu-se para os testes e passou, juntamente com mais três corajosas mulheres da cidade. 

"Naquele tempo tinha que ter estômago. Uma das provas do teste era descer em parafuso o avião no ar, controlando tudo para não bater. Isso sim era adrenalina pura. Só gostando muito pra fazer", lembra ela com empolgação, sobre ter sido a única das quatro mulheres que teve coragem para chegar a este ponto da prova. Resultado: se tornou a primeira mulher paranaense habilitada para pilotar aviões. Naquele mesmo ano, conheceu aquele que seria seu primeiro marido, se casou e, cerca de um ano depois, engravidou e foi obrigada a desistir das manobras radicais, tendo em vista os nítidos empecilhos da condição. "Se mesmo se estar grávida já me embrulhava o estômago quando pilotava, imagina o estrago que seria fazer os parafusos no ar com os enjoos normais de gravidez", conta em meio a risos.

De esposa à primeira-dama, de mãe à empresária

Seu primeiro esposo foi Silvio Magalhães Barros que, além de piloto de táxi-aéreo (um de seus instrutores de voo, inclusive) e empresário, foi vereador, deputado estadual, federal e prefeito de Maringá. Silvio faleceu em 1979, vítima de parada cardíaca, deixando Bárbara aos 43 anos de idade. Desta união, nasceram cinco filhos, dois homens e três mulheres, que lhe presentearam, até o momento, com 10 netos. Perdeu uma das filhas, em 1989, a Christina, devido a uma triste fatalidade. Silvio II, o primogênito, assim como Ricardo, o mais novo entre os homens, seguiram, a exemplo do pai, a carreira política. As outras filhas (Bárbara e Beatriz) escolheram profissões diferentes. 

Em 1988 Bárbara casou-se com o Doutor Emmerich Kanyo Benedek, com que viveu durante seus últimos cinco anos de vida, participando de viagens, divulgando a terapia natural desenvolvida pelo então esposo. Impressionada com a eficácia da geoterapia e das terapias naturais, sempre buscou formas de disseminar e tornar popular os ensinamentos de Dr. Kanyo, famoso à época por utilizar uma associação de tratamentos como hidroterapia, fitoterapia, massoterapia, geoterapia, eletroterapia, desintoxicação e um programa de reeducação de hábitos de vida. 

Com o falecimento de Dr. Kanyo, em 1992, Bárbara - agora com o sobrenome Kanyo Benedek - deu sequência ao projeto, constituindo, em 1995, a empresa Qualivida. Impressionada com a eficácia das terapias naturais, começou a buscar formas de torná-la mais popular até encontrar a dolomita (um mineral composto por cálcio e magnésio e com diversas propriedades benéficas à saúde) e, para acrescentar credibilidade e homenagear seu esposo, pioneiro em naturopatia no Brasil, deu o nome ao produto de Dolomita Dr. Kanyo. Atualmente, os filhos Ricardo e Bárbara estão à frente da empresa. 

Segundo conta, os benefícios do produto natural são tantos que, hoje, no auge de seus 78 anos, mantém a saúde em dia, não toma remédios e vive mais ativa do que nunca. "Eu gosto de liberdade, de estar em contato com a natureza, andar de bicicleta, me exercitar, relaxar tomando um banho de água quente nas piscinas termais, subo e desço as escadas do meu prédio quando não posso sair, pois, assim, acredito ser a melhor forma de me manter feliz e saudável por mais tempo", conta entusiasmada. 

Bárbara ainda relata que há 35 anos é vegetariana, gosta de viajar pelo Brasil e também para o exterior, principalmente, por ocasião de encontros e eventos promovidos pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, religião a qual escolheu por influência do destino, outra de suas grandes paixões. Recentemente, esteve por 11 dias nos Estados Unidos para a Conferência Geral Adventista, com mais de 60 mil participantes do mundo inteiro. Como nativa inglesa, sua fluência na comunicação facilita o contato com pessoas das mais variadas origens, as quais ela costuma chamar de 'amigos', com muito orgulho, pela proximidade cativada em cada um desses encontros que participa. 

E não acaba por aí. Se não bastassem tantas façanhas inusitadas, independente da atuação política, Bárbara Cecily ainda foi presença marcante em inúmeros projetos sociais na cidade, pastorais, fundações, ajudando mães, crianças carentes e muitos necessitados, tendo sido, inclusive, homenageada na fundação de um centro de educação infantil municipal, o qual leva seu nome - CMEI Bárbara Cecily Barros - e atende crianças dos bairros Jardins Mandacaru, Seminário, Vila Santa Izabel e região, em Maringá. Um exemplo de bondade, determinação, força de vontade e dedicação que, certamente, já se tornou um legado para a história do Paraná. Quando questionada sobre o que vem pela frente, é enfática ao afirmar: "Contem comigo para o que der e vier. Enquanto eu conseguir e me for permitido, continuarei fazendo o bem do meu jeito, da maneira que gosto, me reinventando e ajudando a melhorar aquilo que posso", finaliza.


Revista Geração i | Maringá-PR | Agosto de 2015
Fotos: Walter Fernandes e Banco de imagens
Produzido por: Mobi Comunicação


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