TEMPO PRA QUÊ?

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Acho que vou dedicar minha vida a procurar o infeliz que inventou o relógio. Não o objeto em si, mas o relógio como representação do tempo. Tempo este que carrega consigo a culpa de vivermos hoje nesta vidinha medíocre, hipócrita e capitalista.

A angústia tranca meu peito toda vez que me lembro do passado, neste presente com um futuro incerto. Existem relatos de que Santos Dumont teria morrido de desgosto ao ver no que transformaram sua invenção. Algo que traria alegria e liberdade às pessoas, e que naquele instante era usado em guerras, para matar. “O que eu fiz?”, pensou Dumont durante seus últimos suspiros.


Acredito que terei dificuldade em minha busca. Duvido que o inventor do relógio também não tenha morrido do mesmo mal. E seu substituto – aquele, o do tempo – com certeza fará de tudo para me enganar contando falsas histórias sobre suas possíveis curas e milagres.

Não pertenço a você, tempo cruel!

Minha vida faz parte do tempo em que tudo era mais divertido, tudo era mais fácil, tudo era mais novo, mesmo sendo antiquado, tudo era mais seguro, tudo era mais bonito, tudo era mais, no passado.


Sou do tempo em que os relógios eram utilizados para suas determinadas funções: informar as horas, datas , estações do ano. Hoje, além de mera mercadoria, não passam de intermediários entre nós e aqueles acima de nós.


Dependemos do tempo pra tudo, mas nem sempre ele nos ajuda como deveria. Somos escravos, não recebemos nada em troca pelos tantos anos de dedicação. Ele nos faz perder momentos, histórias, memórias, lembranças, esperanças.


Que se trata do progresso? Sim, não se nega. Porém, nada justifica aceitarmos viver à mercê de tamanha desonraria.


Quero voltar a ter medo do escuro, dos sapos, dos filmes de terror. Quero brincar na rua, de correr, esconder e no escorregador. Quero machucar os joelhos, curar ao vento e não morrer por causa da dor. Quero esquecer que conheço o celular, a cafeteira e o computador.

Vale mais a pena parecer do que ser?


Quero te encontrar, infeliz criador desse tempo! Quero te ver escravo de seus delírios, quero te ver embaraçado em suas armações e indignado com sua calorosa hipocrisia. Pois assim, quando tudo estiver acabado, quem sabe possamos nos encontrar naquele algo mais do passado.



Folha Metropolitana Edição II 2006 - Faculdade Pitágoras/ Metropolitana - Londrina
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