O CÉU NÃO É O LIMITE

By | 13:42 Leave a Comment


Somente os pára-quedistas sabem por que os pássaros cantam. Impossível ser pára-quedista e não saber o verdadeiro significado dessa frase. Recitada, quase como um mantra, a frase pode ser ouvida por qualquer apaixonado por altura e saltos livres, pois expressa o desejo de estar em liberdade, por alguns minutos que seja, de estar a sós consigo, de poder voar como um pássaro, com a simplicidade em ser autêntico, e alheio aos problemas do mundo.

Diversas são as histórias sobre a origem do pára-quedismo como esporte. Cada país cultua uma versão diferente. Porém, a que mais convence, é aquela que veio através do uso pelas forças armadas para invasão de territórios inimigos, em grandes guerras. O desenvolvimento do pára-quedismo como esporte acontece a partir da década de 50, quando os equipamentos passaram a ser produzidos com maior segurança e praticidade, justamente adaptados para essa prática.

Fábio D’Águila Pelayo tem 28 anos, e pratica pára-quedismo em Londrina desde os 16. Trabalhava no comércio da família, sempre na área de informática, compenetrado em suas atividades administrativas. Foi quando saiu um dia para dar uma volta, em seu horário de descanso, e viu uma propaganda sobre curso de pára-quedismo, ainda não muito conhecido na época.

Tinha entrado para o curso de Administração na Universidade Estadual de Londrina, e como era apaixonado por aventuras e esportes radicais nas horas de lazer, resolveu fazer o curso e se tornar pára-quedista profissional. Começou participando de competições, e logo foi chamado para trabalhar como cinegrafista aéreo.

"Tudo começou meio sem querer", lembra Pelayo, "eu gostava de ser diferente, de fazer coisas que fugiam do tradicional. Acabou virando um hobby, e hoje não consigo viver sem voar", se entusiasma.

Em Londrina não havia nenhuma escola profissional, existiam apenas instrutores, que ensinavam como saltar. Mas, uma estrutura de escola, com suporte, equipamentos e pessoal treinado para uma prática segura do esporte, surgiu quando Pelayo e um amigo, em sociedade – em conformidade com as regras da Confederação Brasileira de Pára-quedismo (CBPQ) e da Federação Paranaense de Pára-quedismo (FEPAR) – e em parceria com o Aeroclube de Londrina –, resolveram montar uma estrutura, com sede própria e toda a fundamentação teórica e prática para iniciantes.

Fábio conta que o pára-quedismo para ele é uma excelente forma de aliviar o estresse, relaxar, de curtir a vida. "Eu esqueço do mundo. A partir do momento que estou lá em cima, na aeronave, e a porta se abre, a única coisa que dá pra fazer é curtir a emoção, é somente eu e meu corpo. É o ser humano quebrando barreiras, é ter a vontade de voar, é uma mistura de prazer e adrenalina, um conjunto inexplicável de emoções", define seus sentimentos.

E são esses sentimentos, nítidos a quem os aprecia descendo do céu, que conquistam cada vez mais adeptos de fortes emoções a uma altura de 12 mil pés (3600 metros), em uma queda livre de aproximadamente 200 Km/h.

"Eu me sinto livre, apenas isso!", relata o aluno, Marcus Vinícius Matos dos Reis, de 18 anos, "formando", depois de dois meses de treinamento. Ele conta que sempre teve vontade de saltar, mas não tinha coragem. Foi quando entrou para a faculdade de Ciências Aeronáuticas e a amizade com praticantes do esporte foi o estímulo a entrar na escola. "Os amigos me trouxeram pra cá há dois meses e desde então não parei mais", conta.

O novo pára-quedista garante: "não dá medo na primeira vez, a sensação de liberdade toma conta de tudo e nada mais passa em sua cabeça, é uma experiência única".

SEGREDOS DO SALTO

O perigo não está no pára-quedismo, mas sim no pára-quedista

Fábio Pelayo, o instrutor de pára-quedismo, assegura que não há perigo em saltar. Guardados os devidos cuidados, desde uma criança de sete anos (com autorização do responsável), ou um adulto de 70 (em perfeitas condições de saúde) podem saltar tranqüilamente.

Todo pára-quedas, atualmente, possui um dispositivo de segurança. Se ocorrer algum problema no ar, ou até mesmo se acontecer de, na hora do salto, a pessoa ter um desmaio e não for possível abrir o pára-quedas, ele abrirá sozinho. Portanto, o risco de acidente, por motivos técnicos, é muito remoto.

O que acontece, na maioria das vezes, é que, por imprudência do pára-quedista, não se respeita os limites e fatores essenciais de segurança que criam riscos desnecessários e muitas vezes fatais."São como a maioria dos acidentes de trânsito" lembra Fábio, "onde os acidentes acontecem por irresponsabilidades dos motoristas, que desrespeitam as leis".


Revista Estação - Londrina | Primavera 2007/ págs. 33, 34 e 35 | Foto: Junior Curotto

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários: