HUMOR MULTIMÍDIA

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Maurício Ricardo Quirino nasceu no Rio de Janeiro em 24 de Setembro de 1963 e foi criado em Uberlândia, Minas Gerais, onde fez sua carreira e vive até hoje. Além de cartunista, já foi jornalista e baixista. Começou o site por diversão, após ter abandonado o emprego no Correio de Uberlândia, um jornal diário local. Maurício desenha, anima, dubla e toca todas as músicas de fundo de suas charges. Em 2000, fundou o site www.charges.com.br, que logo foi comprado pelo portal zipnet, ligado à Portugal Telecom. No mesmo ano, foi convidado a fazer charges para o programa Domingão do Faustão. Em 2002 o site passou a fazer parte da globo.com e em 2003 foi para o UOL, onde está há quase 5 anos. No ano de 2005 começou a fazer charges exclusivas para o Big Brother Brasil e na seqüência, juntamente com seu colega Fernando Duarte, fez a abertura do programa Sob Nova Direção. Charges sobre o "mensalão" levaram o site a receber menção que rendeu uma matéria na revista Veja e por conta disso foram apresentadas no Programa do Jô. Em 2006, começou a fazer charges inéditas (semanalmente) para o programa Esporte Espetacular, também da Rede Globo, que permanece até hoje. Maurício parodia canções populares e transforma fatos e personagens da política e da mídia em charges multimidiáticas. Consciente do papel social da charge, da Internet e da convergência das linguagens midiáticas, o chargista fala dos elementos do seu universo profissional: política, crítica social, multimeios e, claro, humor.

Como surgiu a idéia de fazer charges?
Maurício Ricardo – Começou quase como um pré-determinismo biológico, pois eu vim de uma família ligada a isso. Minha mãe foi cantora e rádio-atriz, no auge dos anos 50 e meu pai redator de humor e também rádio-ator. Meu pai atuou em TV, numa época antes do VT, era tudo ao vivo, improvisado, e eu achava bacana isso que ele fazia. Desde pequeno gostava de desenhar, gostava de improvisar, assim como meu pai.

E essa história de ser baixista de uma banda de rock?
MR – Apesar de saber que o mercado de trabalho em Uberlândia, para o que eu queria fazer, era muito escasso, eu não queria sair de lá. Aí eu montei uma banda de rock, nos anos 80, como forma de diversão com os amigos e também para tentar ganhar um dinheiro extra. A banda chamava Solo Vertical, e chegamos até a gravar um CD, que por sinal, foi um fracasso! [risos]. A partir daí, comecei a tocar somente por hobby.

E quando foi que você percebeu que fazer charges seria o seu trabalho?
MR – Eu trabalhava para um jornal local em Uberlândia como cartunista diário, depois virei repórter, depois editor, aí virei chefe do jornal, assumi o comercial e a circulação também, e acabei me tornando o principal executivo do jornal. Foi quando me senti profundamente infeliz, porque não era nada do que eu queria pra mim. Mas como o mercado era limitado, não tinha como viver de cartunismo. Foi só quando veio a Internet, que achei que seria uma ótima maneira de conseguir ganhar dinheiro com o que eu gostava de fazer, (isso aos 36 anos de idade). Falei com minha esposa sobre meu projeto, ela me deu a maior força e eu comecei a investir do meu jeito, e deu certo.

Quando foi que você se deu conta do sucesso que estava fazendo?
MR – Eu me dei conta, quando ainda trabalhava como cartunista no "Correio de Uberlândia", e a secretária chegou um dia pra mim, muito nervosa, com um processo de 10 páginas do Paulo Maluf. Era a primeira vez que eu tinha atingido um cara de projeção nacional. E não era simplesmente um deputado local, ou o prefeito da cidade, era Paulo Maluf. Aí eu fiquei, apesar de apreensivo, muito orgulhoso por ter conseguido "encher o saco" de alguém que muita gente tenta, mas poucos conseguem. [risos]


Já que tocou nesse assunto, você não tem medo de sofrer algum tipo de repressão?
MR – Eu venho de uma geração de cartunistas que vêm pós Revolução de 64. Quando comecei, estava pegando o início da abertura política, no final do governo de Figueiredo. Então, não tive a obrigação de ser engajado como teve a geração anterior, que tinha na charge um papel fundamental de burlar a censura, de dizer coisas que não podiam ser ditas de qualquer forma. Então, esse "desengajamento" que minha geração teve, gerou um tipo de humor menos político que o dos outros. Tem política, mas ao mesmo tempo não é político. Não tenho medo não, sou livre pra dizer o que penso, mas sei me defender.

E quanto à repercussão diante do público, no que você se inspira para agradar a todos?
MR – Eu cresci lendo o Casseta Popular e o Planeta Diário (que deram origem ao Casseta e Planeta), que além de assunto sério, tinha também muita abobrinha, e eu adorava isso. O que eu curto hoje no meu site, é que eu posso falar sobre assuntos de ponto de ônibus até os de salão de cabeleireiro. Eu consigo captar algo nacional e jogar como coisas do dia-a-dia. Falo de Renan Calheiros, passando por "quem matou Taís?", até o Pato estreando no Milan. E isso é o que me dá prazer, é não estar restrito a uma coisa só. É claro que o público às vezes estranha, mas é só uma questão de adaptação.

E quando acontece uma repercussão negativa, como você lida com isso?
MR - Eu gosto de ser pop, de não me restringir. É da minha natureza ser uma pessoa multimídia, aberto a tudo. Não tenho nenhum constrangimento em gostar e fazer coisas que as elites consideram brega ou sem cultura. É muito bonito ver também o lado popular da coisa. Eu quero saber o que é a banda Calypso, por exemplo. E quando você descobre o que é, acaba vendo tantas qualidades, que é fantástico! E as pessoas acabam julgando, se privam de conhecer por puro preconceito.

Como é sua rotina de trabalho?
MR - A parte do roteiro está restrita ao que eu faço de segunda a sexta, pela manhã. Tenho dois personagens fixos: o Tobby, que é um personagem com a roupa do Cebolinha, a careca do Zacarias e as orelhas do Mikey, que apresenta um programa de entrevista, no estilo Hebe Camargo; e o Espinha, Fimose e sua turma, que é meu lado mais teen, onde falo da vida e dos conflitos da adolescência. Nesses dois trabalhos, tenho Fernando Duarte, que me auxilia como cartunista e co-roteirista. O trabalho de criação começa naturalmente, eu não impus uma rotina para isso, o que vem na cabeça eu escrevo. E sempre leio todos os, praticamente 300, e-mails que recebo todos os dias para ficar por dentro do que meu público internauta está querendo. Se tem, por exemplo, um grupo de 5 pessoas me falando de determinada música, eu vou atrás para saber o que é faço uma paródia para agradar.

Tem algum trabalho que você goste mais, que é o seu xodó?
MR – Eu tenho muito orgulho do clipe que eu fiz, em março do ano passado, para a música "Eu sou Emo", da minha atual banda Os Semi Novos (que também tem história interessante), porque foi um trabalho mais elaborado. Talvez, a minha grande frustração em relação a minha carreira é de não ter muito tempo para deixar as coisas bem acabadas com freqüência, e esse sim foi melhor estruturado. E gosto dele também, pela repercussão que teve, pela qualidade, ficou bonitinho, eu tentei fugir um pouco do meu traço, fiz uma coisa diferente. Gosto ainda do material que faço e é utilizado como educacional. Algumas de minhas charges são introduzidas nas escolas, pois consigo traduzir um tema de maneira fácil, para um público que não se interessaria por aquele determinado assunto. Mas na verdade, gosto mesmo é da próxima, aquela que está por vir.

Que conselho você daria para as pessoas que estão começando hoje, que têm projetos interessantes como o seu, mas não sabem por onde começar a investir?
MR – Bem ou mal, eu fui pago para aprender. Foi tudo muito rápido mesmo, e o que é mais curioso, que foi tudo sem sair de Uberlândia. É um exemplo interessante até, que eu gostaria de dizer pra vocês, que estão fora desse eixo Rio/São Paulo, que as pessoas têm que pensar num mundo sem fronteiras, sem medo de acreditar. Pensar na Internet como ela é: um campo enorme de coisas, de conhecimentos, de oportunidades. Muitas pessoas ainda não se deram conta da liberdade que elas têm hoje, e de como a Internet está subvertendo a ordem, não só em questão de direito autoral, mas também na parte de concessão pública de rádio e TV. Essa fusão está acontecendo, e todas as possibilidades de controle que hoje estão na "máquina do Estado" vão desaparecer.


**Mauricio Ricardo esteve dia 21 de setembro em Londrina, para palestrar no II Encontro de Comunicação Social (ECOS), promovido pelos cursos de Jornalismo e Publicidade da Faculdade Metropolitana IESB.



Revista Estação - Londrina | Primavera 2007/ págs. 68 e 69 | Foto: Junior Curotto

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