ESTRADA, VENTO E BATOM

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Os desafios enfrentados por uma mulher que decidiu encarar a vida sobre duas rodas

O trânsito, as buzinas, as pessoas. A casa, o trabalho, a escola e mais pessoas. O caos, o estresse, o lazer. O refúgio, a família e cada vez mais e mais pessoas. De pessoas se forma uma cidade, uma sociedade, uma vida. Em suas diferentes formas, estilos e condutas encontramos os mais variados tipos na cidade. E como não poderia ser diferente, Londrina nos traz um prato cheio dessas descobertas: personagens interessantes que fazem jus à essa busca incessante de uma certa "desbanalização" da modernidade da vida urbana.

É normal ser diferente - Há aproximadamente 10 anos, morava em Maringá, cidade no interior do Paraná. Um amigo tinha uma concessionária de motos e lhe ofereceu um emprego. Danieli Regina Valério, a personagem real da nossa história, tinha na época 19 anos, quando começou a vender motos. Mais tarde, já com alguma experiência adquirida, foi trabalhar na capital paulista, onde aprimorou seus conhecimentos sobre as "duas rodas", trabalhando em uma loja de grande porte, vendendo acessórios para motociclistas. Há cinco anos, resolveu trazer a idéia para Londrina, uma vez que não havia nada parecido na região e a procura por produtos especializados era grande.

Em sociedade com o marido, abriu uma loja no centro da cidade - a primeira boutique de motos do sul do Brasil - onde vende acessórios e customização para motocicletas e motociclistas. Com fabricação própria de roupas e acessórios em lona, há sete anos atende o mercado motomobilístico em todo o país. Danieli, hoje com 29 anos, casada, com uma filha de 11, seria apenas mais uma mulher da sociedade londrinense, salvo o pequeno detalhe de ser mecânica de motos e abrigar em sua garagem uma Harley Davidson, modelo Sporster 883. Quando se ouve falar em Harley, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de motoqueiros co cabelos compridos, usando roupas de couro, corpo coberto por tatuagens, piercings e anéis em formato de caveira. Para delírio dos "machões" de plantão e da ala "normal" da sociedade, Danieli conta que já sofreu muito preconceito em seu trabalho, mas que soube relevar, em virtude da paixão pela profissão que foi adquirindo com o passar do tempo.

A infalível arte da sedução - De repente alguém entra na loja e pergunta para a moça atrás do bacão: "Tem alguém que entende do assunto para me ajudar?". Eis então que a - antes de tudo, mulher - Danieli entra em cena com seus longos cabelos louros, a pele clara e suave, com o brilho de uma maquiagem apropriada e suas ferramentas para manutenção da motocicleta. Com uma sutil sensualidade, feminilidade e firmeza, em pouco tempo a moto está impecável. É infalível! "Será mesmo que ela vai conseguir?", se ouve entre cochichos.

Para a mulher - e agora, mãe - Danieli, ainda é bastante diferente, "as pessoas olham e nem sempre acreditam que nesse ramo existe uma família. Acredito que se não tivéssemos esta estrutura não iríamos pra frente, pois assim temos um bom equilíbrio", diz.

Por que motos? - Então um dia, alguém inventou uma obra de arte sobre duas rodas. Pediram para que definissem a criação e, por assim dizer, ouviram que se tratava de um fetiche. O design, aliado ao barulho do seu motor com a força da sua história, fazia as pessoas sonharem. Não existe moda nem tendência de design. Por fora, o visual é antigo, clássico. Por dentro, um motor extremamente confiável e robusto. É o efeito harley Davidson que faz com que a maioria das pessoas parem o que estão fazendo para apreciar a beldade. Há quem acredite que, para o espírito de uma Harley, o piloto é apenas mais um acessório. Quando questionada pela equipe da Estação, sobre o porquê dessa paixão por motos, e em especial por Harley´s, Danieli afirma que ser motociclista é mais do que viajar, do que ver a natureza, é algo maior, como participar dela. "Ando de motocicleta, pois são nestes momentos que tenho as maiores inspirações que utilizo em meu trabalho e em minha vida", comenta. Segundo a motociclista, a paixão por Harley começou há alguns anos. Ela conta que acabou determinando um objetivo de conquista quando conheceu uma dessas motos (máquinas), devido uma sensação, dita indescritível por "harlystas" em todo o mundo, e aforma não haver explicação para o sentimento, apenas quem experimenta pode entender.

A estrada é a melhor terapia - Não há dúvidas que sim. Para fugir dos problemas, do caos da urbanização, da rotina ou apenas para sentir a liberdade. Foi na estrada que Danieli se transformou na pessoa - de uma coragem ousada - que é, para enfrentar os desafios que lhe são reservados. Foi na estrada que Danieli encontrou o amor, que é a base para uma vida estruturada. "Na estrada nos conhecemos, a paixão por moto nos uniu", lembra com saudade. A filha, que praticamente "nasceu" na garupa de uma moto, acompanha os pais desde sempre. Com vários anos de estrada, a mãe diz que sempre teve medo de carregar a filha, porque a responsabilidade é muito grande. Mas, para quem experimenta uma aventura na estrada, nenhum motivo é válido para parar de repente. Basta ter tempo e um destino, que tudo se torna mais fácil.

O importante é não deixar de lado a determinação. A "mulher mecânica", muito orgulhosa de sua profissão, sempre com bom humor administra uma loja de motos sim. Administra também uma família e uma vida, muito mais feminina do que muitas donas de casa. O fato de causar ou não boa impressão só a faz ter cada vez mais gana de enfrentar os padrões impostos pelo mundo contemporâneo.


Revista Estação - Londrina | Edição de Inverno 2007 - pág. 32/33 | Foto: Raphael Alves

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