Saúde e comportamento: Alcides Carvalho ensina a arte e os prazeres de um bom vinho
"O vinho molha e tempera os espíritos e acalma as preocupações da mente... ele reaviva nossas alegrias e é o óleo para a chama da vida que se apaga. Se você bebe moderadamente em pequenos goles de cada vez, o vinho gotejará em seus pulmões como o mais doce orvalho da manhã... Assim, então, o vinho não viola a razão, mas sim nos convida gentilmente a uma agradável alegria”. SÓCRATES (470-399 a.C.)
Na bela e “pequena Londres”, a névoa que cobre o céu nas noites de inverno é um convite aos amantes de um bom vinho. O que poucos sabem, é que na própria Londrina existem produtores e produções de muito boa qualidade.

Denominado Sommelier, por formação (conhece, aprecia e cuida do vinho) e Vitivinicultor (produz a uva e o vinho), há cerca de três anos vem tentando introduzir novas espécies de uvas na região de Londrina. Cabernet Sauvignon e Merlot, espécies originárias da França, que passaram por um processo de adaptação nas vinícolas de Bento Gonçalves/ RS foram trazidas diretamente para o Distrito de Warta ao norte do Paraná, onde Alcides tem uma pequena produção. As primeiras safras deram bons resultados, segundo o professor, e agora está passando por processos de aperfeiçoamento.
Alcides estudou alguns anos em Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, onde convivia bastante com os colonos. Quando tirava férias, não voltava para a casa, devido a distância. Com isso, foi aprendendo a apreciar e produzir vinhos - uma vez que o Sul do Brasil possui o hábito e uma cultura bastante rica em consumo e produção de vinhos.
Após três anos morando na Europa, voltou para o Brasil com o “algo a mais” que faltava para se descobrir nas produções vitivinicultoras. Em 1978, obteve sucesso com sua primeira safra e desde então não parou.
Atualmente produz os vinhos em parceria com um amigo, em um sítio localizado no Distrito de Warta. Entretanto, boa parte de sua produção, se concentra na própria casa. A produção é feita para consumo, sem intenção de comércio e utiliza seus conhecimentos ministrando cursos e ajudando pequenos agricultores, produtores de uvas a fabricarem vinhos para que aumentem suas rendas.
AS DELÍCIAS ENOGASTRONÔMICAS
Entende-se por enogastronomia, o equilíbrio e a harmonia entre o vinho e um prato. A escolha errada do vinho pode comprometer um bom prato e vice-versa, caso haja incompatibilidade entre eles. Simplesmente misturar o vinho que gosta com o prato preferido, quase sempre acaba em desastre. De um modo geral, não existem regras para consumir um bom vinho com uma boa comida, como lembra Alcides. Mas, algumas dicas importantes podem se tornar bem mais satisfatórias.
Um prato de carnes de peixes ou aves, por exemplo, combina bem com um vinho branco. A acidez do vinho branco, quebra a simplicidade do prato com sutileza. Já uma suculenta carne vermelha ou até mesmo uma feijoada, pede um vinho tinto ou um apreciado Porto, que é essencial para uma boa digestão.
Para o vinho como ingrediente de uma receita é importante que seja uma escolha de qualidade para que possa ser degustado com a comida depois de pronta.
Como Comprar
O mais importante na hora de escolher um vinho é verificar a temperatura ambiente em que se encontra. O vinho não suporta variações constantes de temperatura, como o calor do dia e o frio da noite. Se ao lado de uma prateleira de vinhos, encontram-se produtos que exalam cheiros, também não é recomendado. A rolha que tampa o vinho absorve qualquer tipo de odor com o passar do tempo. A cor do vinho é também fundamental para uma escolha sem arrependimentos. Se a garrafa for colorida, colocar de frente à luz é uma boa alternativa para verificar se está transparente e sem nenhum resíduo indesejável. A posição do vinho deve ser sempre horizontal para que a rolha permaneça úmida.
Apesar de tantos cuidados, a qualidade do vinho muda a cada ano, a cada safra. Portanto, nada mais recomendável do que sempre provar um vinho antes de levá-lo à mesa e tirar conclusões. Uma dica do professor Sommelier são os vinhos chilenos, de excelente qualidade e com preço acessível.
VINHO COMO ALIMENTO FUNCIONAL?
Alimento, por definição, é todo produto, seja ele de natureza animal ou vegetal, que se consome naturalmente ou por meio de transformação, componentes, estado de conservação e ingestão moderada, serve para uma normal e regulada nutrição humana. Sendo assim, com o consenso da ciência, o vinho passa a ser um alimento funcional. Diante dos seus 135 componentes, dentre eles dez vitaminas (B1, B2, B6, B12, H, PP, ácido pantotênico, ácido fólico, mesoinositol e colina), que favorecem a síntese de proteínas e lipídios, ajudam na formação de glóbulos vermelhos do sangue, facilitam o metabolismo de carboidratos, gordura e álcool, evitam problemas de pele e favorecem o funcionamento hepático e intestinal; oito tipos de minerais (cálcio, enxofre, ferro, potássio, sódio, fósforo, iodo e flúor); e os taninos, que ajudam no fortalecimento dos dentes e ossos, têm função bactericida e antiviral, estimulam o bom funcionamento dos rins e das células nervosas e promovem o equilíbrio entre a gordura e o açúcar no sangue. Apenas para complementar, o vinho ainda possui polifenóis e resveratrol, que inibem a produção de endotelina, que endurece as artérias, possuindo atividade antioxidante, reduzindo o mau colesterol e aumentando o bom colesterol, exercendo papel benéfico contra doenças degenerativas e a senilidade.
Existe, contudo, uma grande preocupação com a regulamentação da publicidade dos vinhos. A polêmica está em incitar o consumo excessivo de álcool ou prezar pelos benefícios que ele trará à saúde. Além disso, a aprovação do projeto de lei que faria do vinho um alimento funcional, acarretaria em redução de encargos tributários que recaem sobre estes produtos, tornando mais justa a competitividade com concorrentes europeus, por exemplo.
UMA BREVE VIAGEM AO TEMPO
Na corte de Jamshid - um rei persa da mitologia grega - uvas eram mantidas em jarras para serem consumidas fora da estação. Certa vez, uma das jarras estava cheia de suco e as uvas espumavam e exalavam um cheiro estranho sendo por isso, deixadas de lado por serem inapropriadas para comer e consideradas como um possível veneno. Um dia, uma donzela tentou se matar ingerindo o tal veneno. Ao invés da morte ela encontrou alegria e um repousante sono. Ao acordar, narrou o ocorrido ao rei que ordenou que uma grande quantidade da bebida fosse feita, e Jamshid e sua corte beberam pela primeira vez do, até então desconhecido, vinho...
Assim reza a lenda da descoberta do vinho.
Cabe lembrar, que tempos depois (1822-1895) Louis de Pasteur faz descobertas sobre os microorganismos e a fermentação, publicadas em sua obra “Études sur le Vin”, transformada em marco para o desenvolvimento da enologia moderna.
Verdade ou não, fato é que uma das bebidas mais apreciadas no mundo tem o poder de seduzir cada vez mais e mais pessoas além de acrescentar prazeres incríveis em suas vidas.
Revista Estação - Londrina | Inverno 2007/ págs.52 e 53 | Foto: Raphael Alves
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