UM BAR PARA TODOS OS TIPOS

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Como um dos espaços mais característicos de Londrina, o Bar Valentino, inaugurado em 1979, pelo professor de História, José Antonio Teodoro, se transformou num dos pontos mais requisitados entre os variados tipos: intelectuais da arte e da música, o público GLS, jornalistas, estudantes em geral, e principalmente pessoas com estilo alternativo. Teodoro, como era chamado, era homossexual e acabou alugando uma casa de madeira para fazer reuniões com os amigos. Foi incentivado por eles a transformar o local em um bar, sem, no entanto, modificar a estrutura da casa. Ele era obcecado por cinema, e em especial por Marilyn Monroe, o que fez com que o bar fosse pensado e decorado com motivos de cinema. O nome "Valentino" é inspirado em Rodolfo Valentino, outro de seus ídolos. A logomarca em Neon, no telhado do bar, é a silhueta de uma personagem também de Valentino.

Desde a inauguração, o local já foi visitado por celebridades como Ruth de Souza, Tônia Carrero, Paulo César Pereio, José de Abreu, Língua de Trapo, Ney Latorraca, Nana Caymi, Diana Pequeno, Angeli, Lucélia Santos, dentre outros.

Reduto músico-teatral. Na época da inauguração, Londrina participava do circuito do Projeto Pixinguinha, onde eram apresentados shows restritos com gente famosa, que ocorriam aos finais de semana. Dentre as muitas apresentações teatrais de grupos locais e performances, bandas e artistas londrinenses de Jazz, Soul, Blues, Rock e MPB, havia ainda, um acervo diversificado de discos de vinil.

NOVA FASE - Teodoro foi para o exterior e vendeu o bar para Pino, um italiano que introduziu o cardápio de massas do bar – que antes era composto apenas por "petiscos" como lingüiça e carne seca. Mais tarde seguiu o caminho do teatro onde participou do Grupo Cemitério de Automóveis. Foi então que Marcos Marangoni comprou o bar e o manteve por quase 10 anos. Sua família era proprietária de uma casa de massas, e Marangoni trouxe de lá a idéia da massa caseira. Tudo era preparado da maneira mais natural possível, com massa fresca, sem produtos industrializados ou conservantes, o que fez com que o macarrão do bar se tornasse um dos mais famosos da cidade.

Contemporâneo - Waldomiro Chamé e Rosângela Sperandio Chamé são os atuais proprietários, juntamente com Márcio Guerra, hoje sócio-proprietário. Eles estão à frente do bar há 10 anos e mantiveram o cardápio e os aspectos característicos do Valentino, que já havia se consolidado como um dos bares mais tradicionais da cidade. Durante o ano de 2002, o terreno onde era localizado o bar desde a inauguração, na Avenida Bandeirantes, foi vendido a um grupo de empresários locais, que pretendiam construir ali um prédio comercial. A mudança do Valentino ganhou espaço em toda a mídia local, onde a população reivindicava o Bar Valentino como patrimônio cultural da cidade.

As influências adquiridas ao longo do tempo, aproximando grupos diferenciados, só se fizeram presentes quando finalmente a notícia de que o bar mudaria de endereço foi confirmada. A mudança foi capaz de demarcar posições comuns dentre seus diversos grupos de freqüentadores. Construído com as mesmas características, só que num espaço maior, o "novo Valentino" a princípio causou estranheza aos freqüentadores, já tão acostumados ao antigo local, mas agradou pelas mudanças e novidades.

Em entrevista à Grafias, Márcio Guerra conta como foi o processo de "transferência" do bar antigo para o novo local, e sobre a fase de adaptação do público às novidades.


Grafias – Como surgiu a idéia de reconstruir a casinha idêntica à anterior?

Guerra – A gente achava que o Valentino não deveria morrer, então tivemos a idéia de tirar a casa e montá-la em outro lugar. A princípio iríamos montar somente a casa, mas aí veio a proposta do dono do terreno, de fazer um local mais espaçoso, pois lá estava complicado porque ia muita gente e lotava demais. Resolvemos fazer esse salão, que atenderia também as normas da prefeitura, de isolamento acústico, e deixar esse espaço para privilegiar as bandas mesmo, porque na casinha não tinha como colocar uma banda grande, por exemplo. E também os vizinhos se incomodariam muito. Foram utilizadas as mesmas madeiras e vigas, todas foram numeradas, só trocou as telhas, porque não dava para aproveitar. Foi tudo fotografado, detalhado, medido para ficar idêntico.


Grafias – Como está o Valentino novo? O que mudou?

Guerra – Olha, mudou muito. Quando a gente veio pra cá, a gente veio só com o salão. Então, tem a curiosidade de todo mundo quando abre um espaço novo. Começou a vir um público que não freqüentava o antigo bar. Mudou radicalmente mesmo. 70% do público que começou a vir no salão, era um pessoal que não freqüentava o bar antigamente. Os outros 30% vieram pra ver se era a mesma coisa. Muita gente se decepcionou muito, porque viram que era só um salão fechado, mas continuaram a vir esperando a casinha. Aí depois que veio a casinha voltou todo o nosso público.


Grafias – Você acha que o Valentino perdeu, ao longo do tempo, essa característica de essencialmente GLS, por uma influência de Teodoro?

Guerra –
Não. Muito pelo contrário, eu acho que aumentou. Porque agora eles estão se identificando mais, já que eles vêm na casinha, que sempre foi o reduto deles, mas agora eles têm a opção de dançar também. Esse público era um público que passava no Valentino antes e depois da balada. Eles vinham, viam como estava o bar, e iam pra balada, boate, essas coisas. Depois voltavam para o Valentino. Agora não, agora eles vêm para o bar e ficam no bar. É só atravessar o corredor e eles já têm um espaço para dançar e descontrair. Porque chega uma hora, que se você fica três, quatro horas dentro do bar, você acaba enjoando. Então você pode ir lá, dançar, se descontrair, encontrar pessoas.


Grafias – Questão polêmica: quanto à segurança e o alto consumo de drogas dentro do bar?

Guerra –
Ah, sem dúvida melhorou uns 90%. A gente está batendo em cima e não vamos deixar acontecer como era antes. O público mudou também financeiramente. Agora, tem que pagar três reais de estacionamento e três reais para entrar no bar. Então, aquelas pessoas que eram "mal-vindas" no bar, não vieram pra cá. E não queremos que venham também. Demos uma selecionada. O pessoal gostou disso.


Revista Grafias 2006/2007 (Faculdade Pitágoras/Metropolitana) - Ganhadora do 3º lugar do Prêmio Sangue Novo de Jornalismo - categoria Jornal Impresso, pelo Sindicato dos Jornalistas do Paraná | Matéria: Juliana Nunes | Foto: Fernanda Mendonça

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